ELEMENTOS QUE PODEM ESTAR PRESENTES NA DEPRESSÃO E SUICÍDIO NA LIDERANÇA CRISTÃ
ELEMENTOS QUE PODEM ESTAR PRESENTES NA DEPRESSÃO E SUICÍDIO NA LIDERANÇA
CRISTÃ
Estamos, sempre, como pastores e líderes, de alguma
forma pensando, refletindo sobre a complexidade do mundo interior humano. No
entanto, quando acontece algo como o suicídio do nosso querido irmão Andre
Paganelli, não deixa de provocar uma necessidade de maior reflexão sobre esse
tema, especialmente pensando se, de alguma forma, não podemos contribuir para
ajudar tantos obreiros envolvidos nesse contexto, bem como outras pessoas, como
tão bem fez nosso querido e amado irmão Lourenço Stelio Rega, escrevendo sobre
“Pastorado, uma atividade insalubre?!”. Mas quero abordar outros aspectos,
chamando nossa atenção para alguns mais complexos da liderança cristã, seus
desdobramentos, consequências, bem como precisamos estar vigilantes para não
negligenciar aspectos envolvidos nessa complexidade do mundo interior humano, e
que ficam mais latentes no exercício da liderança - sem a pretensão de achar
que o assunto não é ainda mais complexo -. Se olharmos para a Bíblia,
encontraremos esses elementos e/ou aspectos envolvidos e presentes na vida de
muitos líderes; que, por uma ou mais razões, acabaram negligenciando-os; e,
assim, doentes. Vamos vê-los?
DEPRESSÃO POR NÃO CONCORDAR COM DEUS. “Jonas, porém, ficou profundamente
descontente com isso e enfureceu-se. Ele orou ao Senhor: “Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava
em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és
Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes
castigar, mas depois te arrependes. Agora, Senhor, tira a minha vida, eu imploro, porque para mim
é melhor morrer do que viver” (Jn 4.1-3). Jonas entrou em depressão porque não podia concordar
com a graça e a misericórdia divinas! Muitos acabam com seu mundo interior em
conflito, em desordem, com doenças emocionais, espirituais porque discordam da
doutrina bíblica da graça, tanto para consigo mesmos como para com aqueles que
lideram, querendo sustentar sua vida espiritual, seu ministério, seu
relacionamento com Deus a partir de suas obras, méritos, “produtividade”; e, nesse caso, sabemos onde
isso irá parar: Jamais estão satisfeitos consigo mesmos, com seus “resultados” –
esse foi o caso de Jonas -; estão sempre em busca de algo mais. Aqueles que não
conseguem aceitar a graça de Deus, sua bondade, misericórdia para consigo
mesmos e até para com o mais terrível pecador, está sempre com seu mundo
interior em conflito, pois não alcança aquela paz e gozo interior – tão necessários
para o líder cristão -, por saber que é aceito e amado por Deus
independentemente de seus méritos, produtividade, se libertando da famosa “síndrome
do desempenho”. Muitos estão doentes porque estão presos à síndrome do
desempenho.
DEPRESSÃO
POR ESTAR EM CONFLITO COM OS PADRÕES DE DEUS PARA A LIDERANÇA. “No dia seguinte, um espírito
maligno mandado por Deus
apoderou-se de Saul, e ele entrou em transe em
sua casa, enquanto Davi tocava harpa, como costumava fazer. Saul estava com uma
lança na mão e a atirou, dizendo: “Encravarei Davi na parede”. Mas Davi
desviou-se duas vezes” (1 Sm 18.10-11). Todos sabem como Saul foi escolhido por Deus, ungido
e abençoado para ser rei de Israel. No entanto, todos sabem, também, como em
sua biografia há inúmeras referências a um comportamento completamente fora dos
padrões de Deus, especialmente para a liderança. Inveja, ciúmes, idolatria pelo
poder, violência, falta de caráter e integridade; enfim, uma somatória de
atitudes e comportamentos que, a longo prazo, só poderia terminar com essas
expressões: “atormentado”, “transtornado”, “fora de controle”, “emocionalmente
perturbado”. Data vênia, o que observamos, hoje, é que muitos líderes acabam
doentes porque entram por um caminho de quebra, negligência de princípios e
padrões de valores do coração de Deus para a liderança: Nos relacionamentos; na
idolatria do “poder”, da “influência”; ciúmes, inveja, disputas, competição;
talvez como Saul e Joabe: Se manter no poder ou liderança a qualquer preço. São
impressionantes as diferenças de atitudes de Saul e de Davi nesse contexto.
DEPRESSÃO
POR ESGOTAMENTO FÍSICO-EMOCIONAL.
“Elias teve medo e fugiu para salvar a
vida. Em Berseba de Judá ele deixou o seu servo e entrou no deserto, caminhando um dia.
Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte: “Já
tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os
meus antepassados”. Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu”
(1 Rs 19.3-5a). Todos conhecem esse momento que o profeta Elias viveu. Como
tão bem comentou o Pr Lourenço em seu artigo, falando do excesso de trabalho do
líder cristão, Elias foi além de seus limites físicos e emocionais, acabando
numa depressão. Muitos líderes, hoje, estão doentes
por excesso de trabalho e pre (ocupações). Já abordei essa questão num outro
artigo, quando falei do ministério pastoral no Novo Testamento; que, para mim, independentemente
da questão financeira, era um ministério colegiado, por uma questão de dons.
Nós é que inventamos essa eclesiologia de um único pastor cuidando de toda uma
igreja. Não bastasse isso, ainda há a cultura da “centralização das decisões”
em nosso exercício da liderança. Muitos pastores estão fazendo coisas que não
precisavam fazer; que, com certeza, outros poderiam estar fazendo bem melhor; e
outros, quando delegam, delegam “atividades”, mas não “autoridade”, acabando
com o peso, com o fardo nas mãos.
DEPRESSÃO POR NÃO SE
LIBERTAR DA CULPA PELA FALTA DE CONFISSÃO. “Quando guardei tudo para mim, meus ossos se transformaram em pó,
minhas palavras eram gemidos intermináveis. A pressão nunca cessava, a ponto de
todo o líquido do meu corpo secar” (Salmo 32.3-4, versão A MENSAGEM). Quero
terminar com a experiência de Davi antes da libertação de seu pecado (ou
pecados) pela confissão. Quem terminar de ler este salmo ou o cinquenta e um,
saberá com mais exatidão do que estou falando. Muitos estão doentes porque não
se aproximam do trono da graça através da confissão, e insistem em caminhar com
pecados encobertos, motivações impróprias jamais confessadas ou reveladas; “segundas
intenções” em tantas decisões, escolhas. Uma liderança não pautada pela
integridade, pela coerência e harmonia entre o público e o particular; entre o
interior e o exterior; entre a forma e o conteúdo; acaba produzindo trincas,
brechas; que, por sua vez, em continuidade, acabará produzindo doenças pelos
conflitos interiores vividos dia após dia.
É claro que há muitos outros aspectos e elementos
envolvidos. É claro que esse é um tema muito mais complexo; mas que, com toda
certeza, meditar nesses quatro, já pode nos ajudar.
Pr Genevaldo Bertune.
